
Este livro surgiu no meio da infância, quando ouvia conversas difusas sobre pessoas que conheci, que vi em fotos, de quem ouvi falar e outras que vi chorarem estas estórias: os que se foram, os que ficaram, os devaneios póstumos e o novo olhar em redor.
Quando o vento varre a casa, ele leva o que vê na frente. E é bem diferente de limpeza o que ele deixa ali. É devastação. É tudo que não queríamos que tivesse se movido de nós. Há livros que constroem enquanto pensamos que construímos.
Por longos anos tirava de manhã a pá para me dirigir a uma estranha construção para a qual eu estive vendada. Certa noite me foi tirada a venda. Algumas vezes ao procurar o castelo que eu imaginava erguer, encontrava apenas um fosso que costumava cavar. E só depois de largo tempo foi que senti que a água estava por emergir. Puxei o balde e pude vislumbrar com inteireza as flores desse jardim tão familiar. Eu enterrava os meus mortos.
Marcia Matos